Estudo das alterações funcionais do filme lacrimal em fumantes e não fumantes

Ana Beatriz Soares Cid Parente, Luiz Henrique Gagliani

Resumo


Devido ao contato constante do ar ambiental com o filme lacrimal pré-ocular, com córnea e com conjuntiva, as toxinas têm acesso direto às estruturas do olho e podem provocar alterações fisiopatológicas, levando inclusive à diminuição da produção lacrimal. Há evidências de que o uso ativo de cigarros possa ser responsável, pelo menos em parte, pelos sintomas associados à síndrome de olho seco . O propósito deste estudo é determinar se existe uma alteração quantitativa na produção lacrimal em indivíduos fumantes e se esta alteração é dependente da dose de exposição. Foram estudados 58 homens classificados em um de quatro grupos, segundo o consumo de cigarros: Grupo Não fumantes, Grupo Fumante leve (até 10 cigarros/dia), Grupo Fumante Moderado (11 a 20 cigarros/dia) e Grupo Fumante Pesado (mais de 21 cigarros/dia), com n = 16, 13, 17 e 12, respectivamente. OS participantes responderam um questionário direcionado ao levantamento de histórico de exposição às principais fontes de irritação ocular, além da fumaça do cigarro e também avaliação de existência de características de morbidade ocular que poderiam induzir olhos vermelhos, irritação ocular, lacrimejamento, visão embaçada, ardor, fotofobia e sensação de olho seco. Todos os participantes foram examinados através do teste de Schirmer, após anestesia prévia para avaliação do lacrimejamento basal. A análise da classificação categórica mostra que, nesta amostra, existe uma associação entre a quantidade de cigarros consumida diariamente e classificação do indivíduo como Normal ou Olho Seco pelo teste de Schirmer (p< 0,001). A análise de variância dos dados indica que o lacrimejamento observado no teste de Schirmer é significativamente menor nos fumantes moderados quando comparados aos não fumantes e também é menor nos fumantes pesados quando comparados com os não fumantes e fumantes leves (p<0,001). O teste de regressão linear mostrou que há uma relação de dependência (inversamente proporcional) entre a diminuição do lacrimejamento observado no teste de Schirmer e o aumento da quantidade de cigarros consumida diariamente (p< 0,001). Esta relação pode ser representada por uma reta descrita pela equação é y = 0,2886x + 13,485, com um coeficiente de determinação R2=0,4208. A análise dos sintomas referidos pelos participantes mostrou que não há diferença na prevalência de sintomas entre os grupos não fumantes e fumantes leves; por outro lado, a prevalência de sintomas é maior no grupo fumante moderado em relação ao fumante leve e não fumantes, apresentando valores máximos no grupo de fumantes pesados. Além disso, a análise da distribuição do tipo de sintomas entre os diferentes grupos mostrou que para os não fumantes há prevalência de vermelhidão e irritação oculares, enquanto que nos fumantes moderados e pesados prevalecem o lacrimejamento e a sensação de olho seco.

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